Projeto prevê clonagem de lobo-guará
AFP - Agence France-Presse
Publicação: 14/11/2012 11:00
Atualização: 14/11/2012 11:05
Uma parceria da Embrapa Cerrados com o
Jardim Zoológico de Brasília pretende realizar a primeira clonagem de um
animal silvestre no País. Como parte do esforço de preservação de
mamíferos do Cerrado, o lobo-guará surge como provável candidato a ser
usado no experimento, que deve começar em janeiro.
A clonagem é o
próximo passo de um projeto anterior entre as entidades. “Criamos um
banco de germoplasmas (material genético) com células de animais mortos.
Temos um material que acabaria se perdendo, desde roedores aos
maiores”, diz o pesquisador Carlos Frederico Martins, da Embrapa
Cerrados. “Ainda não está decidido qual animal será usado, mas temos
avaliado espécies como o lobo-guará, que tem ocorrência no Cerrado.
Também temos espécies como o cachorro-do-mato e a onça-pintada em nosso
banco de células.”
Ele afirma que o projeto pretende transferir a
experiência da Embrapa para o zoológico, que poderá desenvolver
pesquisas próprias. “Inicialmente, coletamos células de animais do
Cerrado mas estamos expandindo para outros biomas e até para espécies
exóticas. A ideia é treinarmos os pesquisadores do zoológico para que
eles produzam seus trabalhos na área.”
A técnica de transferência
celular em mamíferos é dominada pela Embrapa desde o nascimento de
Vitória, o primeiro clone bovino do País e da América Latina, há 11
anos. Desde então, mais de 150 bovinos foram clonados por pelo menos
três laboratórios brasileiros.
“Nossa ideia neste projeto é usar o
conhecimento que temos com base na clonagem de bovinos”, afirma
Martins, que evita estipular um prazo para o nascimento do primeiro
clone de mamífero silvestre. “Nos bovinos, apenas entre 5% a 7% dos
embriões chegam ao final da gestação. Novamente, teremos de verificar as
possibilidades dos embriões e de se transferi-los para os receptores.”
O
pesquisador da Embrapa garante, porém, que há viabilidade e cita a
clonagem do lobo-cinzento feita por pesquisadores sul-coreanos da
Universidade Nacional de Seul, há cinco anos. Ele não descarta buscar
auxílio técnico para complementar as experiências feitas no País. “O
know-how que a gente tem dá para começar, mas com o andar do projeto
podemos ter contato com o pessoal de lá para obter informações sobre as
técnicas usadas.”
Martins lembra, no entanto, que a clonagem dos
mamíferos silvestres ameaçados é um recurso pontual, que não deverá ser
usado em larga escala. “A clonagem é apenas uma das tecnologias
possíveis de serem utilizadas e serve apenas para o repositório do
zoológico. O ideal é que sejam mantidas medidas como a preservação dos
hábitats e a proteção desses animais.”
CautelaA
superintendente do zoológico, Juciara Pelles, espera que em três meses a
documentação esteja pronta para dar início ao projeto. Ela diz que o
zoológico aguarda a aprovação do departamento jurídico da Embrapa para
que o contrato seja assinado. “Será um contrato de cooperação técnica,
em que não será preciso autorização especial do ICMbio e do Ibama.”
À
espera dos últimos ajustes, Pelles evita dar detalhes sobre quantos
animais e quais outras espécies poderão ser clonadas, mas confirma que
será usado o banco de germoplasmas já coletado. “As lâminas que foram
feitas foram conservadas e serão aproveitadas”, completa.